Reminiscências de Carnaval

Estava eu visitando o blo da Beth, o Mãe Gaia e ela havia colocado um post sobre o carnaval em seu bairro e o bloco que passava na rua, até postou um vídeo que ela fez de sua varanda.

Comecei a comentar e a lembrar como era o carnaval no bairro em que nasci e cresci lá em Duque de Caxias (RJ), um bairro chamado Gramacho, não confundir com Jardim Gramacho que de jardim não tem nada. E também não adianta perguntar, eu não sei o que quer dizer Gramacho.

Vivi grande parte da minha vida em sua rua principal e era lá que aconteciam os desfiles das Escolas de Samba (pelo menos seus participantes achavam que era uma escola de samba, rs), dos blocos de piranha, dos blocos simples e outras cositas mas. Aliás uma destas "escolas" deu origem a Grande Rio, hoje participante do grupo especial do carnaval do Rio de Janeiro.

Eu adorava. Minha mãe fazia uma pareô com um bustie, colares de havaianas e estava tudo pronto, lá ia eu para o portão da minha casa ver o carnaval passar na minha porta. Quando pequena minha mãe nos levava (eu e minha irmã mais nova) para dar uma volta no bairro e depois já adolescente fazia minhas incursões sozinha. Baile de carnaval? jamais. Minha mãe não deixava a gente ir, até hoje não sei por quê.

Aconteceram tantas coisas neste período. Me lembro de um ano em que no desfile do bloco das piranhas, que para quem não conhece é um bloco onde os homens saem vestidos de mulher, um vizinho meu saiu e lá se confirmou sua homossexualidade, que para os pais dele era novidade enquanto que para o resto do mundo e eu que era sua amiga desde pequena já sabia. Ele ficou lindo, gamoroso, hoje não tenho mais contato com ele.

Lembro também que meu pai teve que colocar um cadeado no portão, já que os foliões entravam em nosso quintal e faziam xixi lá dentro. Esta mania que brasileiro tem de fazer xixi em todo lugar é horrorosa e no dia seguinte quando acordávamos o banco que havia na parte de dentro do quintal parecia uma esterqueira, até coco encontramos uma vez. Nem tudo são lembranças pergumadas não é?

Lembro também que nos preparávamos para assistir aos desfiles das grandes escolas pela tv, foi justamente para o carnaval que meu pai comprou a nossa primeira tv a cores. Parece que foi ontem, era uma tv Philco de seletor e os controles de som, brilho e contraste era de corrrer. A tv custou 21 mil cruzeiros. Eu ainda vejo meu pai contando aquele monte de dinheiro para ir até a loja e adivinhem, 1 semana depois que ela chegou lá em casa parou de funcionar. Foi um corre corre, já que ela veio para o carnaval e tinha que estar pronta, mas no fim deu tudo certo.

Para assistir aos desfiles, minha mãe durante o dia preparava uns belisquetes e suco e refrigerante e a noite nós fazíamos um acampamento na sala. Arrastávamos os móveis, forrávamos o chão no meio da sala com muitos cobertores, deixávamos os ventiladores preparados e muitos travesseiros e alí nos instalávamos para assistir aos desfiles. Conforme cada um fosse "caindo" era só enconstar nos travesseiros e dormir e o últimos que desligasse a tv. Meu pai era sempre o campeão, ficava acordado até ver a Mocidade Independente de Padre Miguel, que sempre foi sua grande paixão.

Na quarta feira de cinzas lá íamos nós, a família do firifinfin, para o sambódromo (a passarela do samba ainda não existia) ver os carros alegóricos que haviam desfilado. Ficámos fascinados com tudo aquilo, pena que as fotos estejam com a minha mãe no Brasil, se não colocava aqui para vocês verem. Pegávamos o trem na estação de Gramacho, íamos até São Cristóvão, lá trocávamos pelo pré-metro (hoje linha 2), trocávamos pelo metrô e saltávamos na estação central do Brasil e íamos a pé até o local dos desfiles e da dispersão e na época estes carros ficavam guardados no depósito da Comblurb que ficava onde hoje é a apoteose.

Estou falando da década de 70 e 80. Regime militar.

Era tão fácil ser criança, Era tão simples ser feliz.

*Imagem retirada do LP de Walter Gonçalves - Carnaval do meu tempo de 1957